I- O Budismo acredita na reencarnação?
O
Budismo não ensina a reencarnação, o Budismo acredita no renascimento.
II- Qual é a diferença entre reencarnação e renascimento?
A
reencarnação é a ideia da existência de um espírito separado do corpo; com a
morte do corpo esse mesmo espírito reassume uma outra forma material e segue
evoluindo. O renascimento na concepção Budista não é a transmigração de um
espírito, de uma identidade substancial, mas a continuidade de um processo, um
fluxo do devir, no qual vidas sucessivas estão conectadas umas às outras
através de causas e condições. Esse processo ou fluxo não ocorre apenas com a
morte mas está presente constantemente nas nossas vidas. Nós estamos em
constante mudança, com cada momento nas nossas vidas surgindo na dependência do
momento anterior, que deixou de existir. É um pouco parecido com a correnteza
de um rio, a correnteza fluindo continuamente sem cessar. Não é possível entrar
no mesmo rio duas vezes.
Podemos ilustrar o renascimento com um símile, é como se a chama de uma vela
fosse empregada para acender uma outra vela e nesse processo a primeira vela
fosse apagada. A chama da segunda vela surgiu na dependência da primeira vela,
ou seja, tem uma conexão com ela, mas a chama da segunda vela não é idêntica à
primeira. Então, as duas chamas possuem uma ligação mas não são idênticas.
III - De onde então vem o homem e para onde ele está indo?
Há três respostas possíveis para esta questão. Aqueles que acreditam na existência de um Deus, em geral, postulam que antes da criação de um ser ele não existe, ele passa a existir pela vontade do Deus criador. De acordo com o seu modo de vida, o seu destino será o paraíso ou o inferno eternos. Há outros, humanistas e cientistas, que postulam que um ser surge através da concepção baseada em causas naturais, nasce, e depois de viver algum tempo, morre deixando de existir por completo.
O
Budismo não adota nenhuma dessas explicações. A primeira dá origem a uma série
de questões de ordem ética. É difícil explicar, se somos realmente criados por
um Deus, porque tantos seres nascem com deformidades terríveis ou porque tantos
fetos abortam por causas naturais ou são natimortos. Também parece um tanto injusto
que alguém esteja destinado ao sofrimento eterno no inferno ou à felicidade
eterna no paraíso tendo vivido apenas 60, 70 ou 80 anos. A segunda explicação é
um pouco melhor do que a primeira e está mais baseada em evidências
científicas, mas ainda assim deixa muitas questões sem resposta. Como é
possível que um fenômeno tão incrível como a consciência possa se desenvolver
do simples encontro entre o esperma e o óvulo? E agora que muitos fenômenos
paranormais são reconhecidos como ramos da ciência, fenômenos como a telepatia
são cada vez mais difíceis de se encaixar num modelo puramente materialista.
Para
o Budismo, com a morte, a consciência com todas as suas tendências,
preferências, habilidades e características que foram desenvolvidas e
condicionadas nesta vida, se re-estabelece no embrião/feto. Dessa maneira, o
ser cresce, nasce e desenvolve uma personalidade condicionada pelas
características que foram trazidas da vida passada e pelo novo ambiente, além
de outros fatores condicionantes como a hereditariedade, etc. Essa
personalidade está sujeita a mudança e será modificada através do esforço
consciente por fatores condicionantes tais como a educação, a influência dos
pais e da sociedade, etc. Outra vez, com a morte, essa consciência irá se
re-estabelecer num novo embrião/feto.
Esse processo de renascimento irá continuar até que as condições que o causarem persistam. Quando essas condições deixarem de existir, ao invés de renascer, a consciência alcançará um estado que é chamado nirvana, e esse é o objetivo último no Budismo.
Esse processo de renascimento irá continuar até que as condições que o causarem persistam. Quando essas condições deixarem de existir, ao invés de renascer, a consciência alcançará um estado que é chamado nirvana, e esse é o objetivo último no Budismo.
IV - Como a consciência migra de um corpo para outro?
Imagine as ondas de rádio. As ondas de rádio não são compostas de palavras ou notas musicais mas de energia em distintas freqüências que são transmitidas através do espaço e atraídas e capturadas por um receptor no qual se manifestam como palavras e música. Algo similar ocorre com a consciência. Ao morrer, a energia mental cruza o espaço e se une ao embrião/feto para formar o novo ser. O embrião/feto e a consciência se desenvolvem através de uma relação de mútua dependência e influência.
V - Os seres humanos sempre renascem como seres humanos?
Não. De acordo com o Budismo há vários planos de existência nos quais ocorre o renascimento. Alguns seres renascem no paraíso celestial, alguns no inferno e assim por diante. O paraíso celestial ou o inferno não são propriamente lugares mas estados de existência onde a mente experimenta respectivamente principalmente prazer ou dor. A vida nesses planos no entanto é temporária e depois disso haverá um novo renascimento que poderá muito bem ocorrer entre os seres humanos. Então, a principal diferença entre o plano humano e os outros planos é a qualidade da experiência mental.
VI - Qual o fator que decide onde um ser irá renascer?
O fator mais importante que condiciona o renascimento é karma.
Karma quer dizer ação baseada na intenção e se refere ao conjunto de ações com
a mente, corpo e linguagem que constituem no seu conjunto a bagagem que
carregamos conosco.
Essas ações geram consequências que são os frutos do karma. Os frutos do karma influenciam tanto a nossa experiência do mundo como o processo de renascimento por ocasião da morte.
Essas ações geram consequências que são os frutos do karma. Os frutos do karma influenciam tanto a nossa experiência do mundo como o processo de renascimento por ocasião da morte.
VII - Mas o que exatamente é karma?
Karma é uma palavra em Sânscrito, (Kamma em Pali), que quer dizer ação baseada na intenção e essa intenção inclui volição, escolha e decisão, o ímpeto mental que conduz à ação. A intenção é aquilo que incita e dirige todas as ações humanas, ambas, criativas e destrutivas e por isso é a essência de karma.
Intenção
no contexto Budista tem um significado muito mais sutil do que o uso mais geral
dessa palavra. Em geral tendemos a usá-la quando queremos proporcionar um elo
de ligação entre o pensamento interno e as suas ações externas resultantes. Por
exemplo, podemos dizer, “Eu não tinha intenção de fazer isso,” “Eu não tinha
intenção de dizer isso” ou “Ela fez isso de forma intencional.”
Mas,
de acordo com os ensinamentos Budistas, todas as ações e linguagem, todos os
pensamentos, não importa quão fugazes sejam, e as respostas da mente a sensações
recebidas através dos órgãos dos sentidos contêm elementos de intenção. Assim,
a intenção é a escolha volitiva feita pela mente em relação aos objetos para os
quais a atenção é dirigida; é o fator que conduz a mente a se inclinar ou a
repelir os vários objetos da atenção, ou de prosseguir em uma certa direção; é
o que guia ou governa como a mente responde aos estímulos; é a força que
planeja e organiza os movimentos da mente e no final das contas é aquilo que
determina os estados experimentados pela mente.
Karma
opera no universo como uma cadeia contínua de causa e efeito. Essa cadeia não
está só confinada à causação no sentido físico, mas também tem implicações
éticas e morais. “Boas ações trazem bons resultados, más ações trazem maus
resultados”, é um dito comum. Nesse sentido karma é uma lei moral.
Os
seres humanos estão constantemente emitindo energia física e mental em todas as
direções. Na física aprendemos que não há perda de energia, ela só muda de
forma. Essa é a chamada lei da conservação de energia. Do mesmo modo, a energia
mental nunca é perdida. Ela é transformada. Portanto, karma é a lei da
conservação da energia moral.
Através
das ações com a mente, corpo e linguagem os seres estão emitindo energia para o
universo, e em contrapartida, eles são afetados pelas influências que fluem na
sua direção. Os seres portanto, enviam e recebem todas essas influências,
encontrando-se num estado de interdependência.
O
Karma não deve ser confundido com destino, fatalidade. Destino transmite a
idéia de que a vida de alguém foi planejada de antemão por algum poder externo
e que a pessoa não tem controle sobre o desenrolar dos eventos na sua vida.
Nesse
sentido é importante observar que karma através dos seus frutos é um fator que
influencia o futuro e não que determina o futuro, pois a cada momento os seres
têm a oportunidade de agir no sentido de reforçar os frutos do karma ou de
minimizá-los. Isso ocorre porque no Budismo karma não é visto de uma forma
absolutamente linear. Há um processo linear em operação através do qual
experimentamos no presente os frutos de ações passadas mas também há um
processo sincrônico no qual o presente é influenciado pelo fruto das ações no
presente. Dessa forma o Budismo reconhece que há um certo espaço para o
exercício do livre arbítrio.
Qualquer
ação desprovida de intenção não tem impacto na lei de karma. Por exemplo, um
barranco desmoronando, uma pedra caindo de uma montanha, ou um galho morto
caindo de uma árvore, não faz parte do escopo da lei de karma, mas de alguma
outra lei da natureza.
Fonte:
Acesso ao Insight.
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